16 de mai. de 2011

Um cara qualquer, com o relógio parado (...e a vida andando)

     E todo dia ele acorda cedo, vira a cara para o lado e dorme até ficar atrasado. Não sabe o que tem pra fazer até a hora do trabalho, mas levanta com o ar desesperado de gente por demais atarefada. Afobado, toma café gelado, mora com a mãe e está mais uma vez reclamando do horário.
     Tem o resmungado afiado, bem disposto a praguejar a vida e os vivos, adora livros que ainda não compreendeu e está bem a continuar investindo no nada.Telefone desligado, amigos atarefados, e ele vivendo atrasado, vendo os desenhos repetidos da TV.
     Planos? Um monte deles, cada dia mais um. Belos planos mirabolantes e um desejo reprimido que todos o venerem, que reconheçam o valor que ele, que nem ele, assume que tem.
     Já na hora do trabalho, caminha calmo, aproveita esse instante pra reclamar na sua cabeça sobre o desperdício de tempo pela manhã. E trabalha como um cachorro, enganado pela lábia do patrão, lidando com meninas que ele nunca comerá e vai pra casa no fim, pensando em acordar cedo e mudar de vida.
     Tem a memória curta ou se perdoa fácil? No outro dia deixa a mudança de lado e volta a reclamar do mesmo, do mais do mesmo. Ele não mudará, ama essa condição abocanhada pela mediocridade e odeia sair da mesa de barriga vazia.
     Já leu uma vez que há homens que nascem póstumos e percebeu se observando que - ele perde muito tempo com isso - que também há homens que pra vida não nascem.

3 comentários:

  1. penso que pensamento agora que vem na mente é que conheço esse cara!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. outras pessoas me diseeram que se reconhecem nesse texto, tb me vejo um pouco aí.

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