28 de nov. de 2012

Sair e voltar-se

sair de si
numa cerveja
num baseado
e encontrar-se
em cada gole
em cada trago

sair de si
no cinema
e perceber-se
numa cena

sair de si
é sair de se

sair de se
é voltar a si

26 de out. de 2012

Afinal, é tudo agora


               I

Agora tenho um pouco de tempo
duas horas, talvez
enquanto posso, paro pra dizer

que faz muita falta, 
eu pedi tempo ao tempo.
Voltei, pra desdizer.



               II

Rabisquei uns discursos
li tudo, mas não decorei
hoje eu perdi a folha e
de improviso vim pra você

pois haverá sempre um corte
uma busca por nada
comparação absurda
entre quem mais falha
uma parte que não se toca
uma sombra clara
há de ser tudo teu
seu caminho sua casa



              III               

to enfrentando uma barra
danada de ter
saber como ser tudo
que sempre quis ser

onde estou no mundo?
onde está você?
eu pedi tempo ao tempo
voltei pra desdizer

pois haverá sempre um corte
uma busca por nada
comparação absurda
entre quem mais falha

uma parte que não se toca
uma sombra clara
há de ser tudo nosso
há de ser nossa casa


7 de out. de 2012

Tempo entre tudo


Amanhã,
vou tentar lembrar de ontem
com saudade, com orgulho
mas sem querer voltar.

Já faz tempo,
que eu deixei pra trás
o que acabou e o que não fez
questão de durar

Tempo passa sem aviso
e quando vemos já em tempo em que o tempo passou
Infância, amigos, casa nova
velhos filmes, velho amor

Tempo passa sem aviso
e quando vemos já é tempo em que o tempo chegou
de abraçar, de dar sorrisos
fazer amigos, doar o amor

16 de set. de 2012

Atemorizadus Blattaria


A luz acendeu, eu fiquei imóvel. Eu estava no azulejo perto da pia. Ao lado do lixo, onde há uma de nossas saídas. 
Ele entrou, abriu a geladeira e retirou a garrafa de água. Hesitou. Foi até a pia e serviu-se de um copo.
Retornou até a sala e voltou com um chinelo na mão. Eu desesperei, três primas correram, Ele foi até perto da geladeira, empunhando a havaianas. Ergueu o braço. Eu desesperei mais ainda, corri pra perto do esconderijo, olhei para trás e pude perceber a sombra do chinelo diminuir, até todo o corpo daquela arma, matadora de nós, por ao fim a vida de uma prima minha gorda. 
Ela que havia tido sua primeira ooteca há alguns minutos. 
Afim arejar a cabeça saiu pra dar uma volta, queria ter ido longe, provavelmente pensando no futuro de seus filhos.
O estralo da havaiana ainda ecoa em meus ouvidos. Eu não saio da toca há dois dias, nem pra ir ao lixo, nem aos restos na pia. Eu temo por minha vida. E já ouvi rumores que haverá dedetização.



Pedro Ormuz

Irradia


Após a ventania das cinco da matina

Raia o sol
Irradia

Eu erro
Caminhante

Acordado
era noite

Hoje tenho
histórias

Noite que não
acabaria

Se eu pudesse
estender

Mas raia
Ira Dia



Pedro Ormuz

8 de set. de 2012

A soma


quantos fósforos sobraram?
quantos cigarros fumamos?
quantos beijos demos?
quantas horas perdemos?

só contando

os dias que passamos
aniversários que fizemos

e planejando, tudo
planejando e enumerando



Pedro Ormuz

17 de ago. de 2012

Aos Tragos e Barrancos

Me rendo ao trago
ele há, ainda há

um afago, um alívio
substituto prazer alcançado

sem renúncia
sem denúncia
eu, só, me abraço

pego o lápis e rabisco

frases sem sentido
bilhetes sem destino
viagens no sofá



Pedro Ormuz

14 de ago. de 2012

uma porca poesia


Teu gosto é velho conhecido meu
e não me canso, em ti descanso
cada vez que me atrevo, mascando
te acariciando com os dentes meus



Pedro Ormuz

12 de ago. de 2012

Dia dos pais

Ele iria receber nosso presente?
meu e de minha irmã
Abriria a porta?
Atenderia o telefone?
"será que ele está nos ouvindo?"
Estaria mesmo em casa?

Não sei, mas sabíamos

Não nos deixou saber dele
Ele não suportaria saber
e também não se permitiu

Mais velho, espero o fatal encontro
Esse haveremos de ter
Quem de nós velará o corpo do outro?

Se dane com a sorte a resposta
o dia dos pais é desconforto
habitual

Até quando eu dizer adeus
e será sem resposta
habitual

Jogando terra sobre sua cova
Enquanto hoje à cavo



Pedro Ormuz

Erupção

Um vulcão adormecido
Cem anos em hibernação
Surge e mancha o céu
Mostra forte erupção

— Acha que esperarei
todo esse tempo, pra
rolar no chão, sorrir
contigo, manchar seu batom?

Não. Não espero não.



Pedro Ormuz

10 de ago. de 2012

On The Road

Clique para ouvir
- On the Road -

Cento e vinte por hora num carro apertado
Um baseado rolando, uma garota do lado
Eu desço num posto pra comprar cerveja
Mas não fumo cigarros nem leio a Veja
O pneu tá desgastado, vamos pelo atalho
Uma estrada de chão que corre ao lado
Não é diferente do que a gente faz
Ficar na deriva à procura da paz

O asfalto de fogo e o sol escaldante
Não me fazem parar e nem largar o volante.
No meio da estrada, meu Chevette amarelo
É como um risco de luz, é como ouro em farelo.
Seguimos em frente, rumo ao fim da vida,
Sem saber se a morte é chegada ou saída.
Embrulhe a pança com um saco de pão,
Quem sabe a fome te esquece, mas eu acho que não

Cento e vinte por hora num carro apertado
Um baseado rolando, uma garota do lado
Eu desço num posto pra comprar cerveja
Mas não fumo cigarros nem leio a Veja
Seguimos em frente, rumo ao fim da vida,
Sem saber se a morte é chegada ou saída.
Embrulhe a pança com um saco de pão,
Quem sabe a fome te esquece, mas eu acho que não

Nada se compara a esse vento no pescoço
Nada se compara a esse vento no pescoço
Nada se compara a esse vento no pescoço
Nada se compara a esse vento no pescoço


Letra e Música: Pedro Ormuz e Wilson Filho

30 de jul. de 2012

Receio

De ligar e parecer chato
Não ligar e parecer desinteressado

De parecer os outros, e
nada meu aparecer de fato

De você ir sem ter notado
Eu ir sem ter falado
Que adoro quando está
sorrindo e do meu lado



Pedro Ormuz


20 de jul. de 2012

Novo Luar

Elas me falam da lua
elas todas
todas elas
a mesma lua

Do lado negro que admiro
está a que prefiro
de todas elas
esta Nova



Pedro Ormuz

1 de jun. de 2012

Autor e Arranjador

Compor ao descompor
metrônomo no descompasso

Ritmo pulsional:
Sublimação

Descompondo-se,
Fazendo
Composição.

10 de mai. de 2012

O que ainda há*



- O que ainda há -

Não será o fim
se você não voltar mais.
Cuidarei de mim
mesmo se eu ficar pra trás

Mas chegue perto de mim
Só vá mesmo no fim
Aproveite o que ainda há

Não será o fim
se você não voltar mais.
Cuidarei de mim
mesmo se eu ficar pra trás

Saiba ficar só
mesmo que só, saiba isso
(somente isso?)
Saiba ser melhor
Correr riscos
(bem mais riscos?)

Mas chegue perto de mim
Só vá mesmo no fim
Aproveite o que ainda há

Letra: Pedro Ormuz
Pedro Ormuz: Violões, Vozes e Sintetizador
Rodrigo Bispo: Baixo
http://soundcloud.com/pedroormuz/oqueaindaha 

30 de abr. de 2012

Reveillon

Desejo de descoberta
noção de que algo se repetirá
um novo brinde
a branda festa
no céu nada mudará

A noção do cantar do galo
que não muda e nomeia missa
continuará o ano inteiro
e ninguém mais desejará felicidade
(se muito no aniversário)

Hoje eu vou passar de preto
só o acaso pra brindar
muitos anos me esperam
gozos precisam vir.
E Eu não posso te aguardar



Pedro Ormuz

#08 04/12


um movimento, corrimento, escorregão
um pé de vento, estar atento, sem direção
passa o tempo e meu tormento no coração
a voz que falha, sangue pára, morte

a palavra 'não'



Pedro Ormuz

20 de abr. de 2012

Rapidinha

abaixa a calça
sobe a saia
desce a cueca
desvia a calcinha

singelas e vis
sumptuosas e santas
fatais e desesperadas
sessenta e três bombadinhas



Pedro Ormuz

13 de abr. de 2012

#06 13/04

Descobri em mim
uma parte que não sabia

"Quem é você, aqui?"

parte calada, meio alemã e meio mulata
muda e calada

eu pergunto
ela nada
eu resmungo
ela nada



Pedro Ormuz

Maconha

nem tô louco
nem um pouco
eu venho alertar

que muito do que
falam que é verdade
nem rastro
de verdade há

proibiram e difamaram
mas não pararam de fumar
ninguém sabe onde
mas todos tem
e quem procura
não tarda achar

não é em vão
que muitos gostam
há médicos e há
juízes que aprovam

procure saber sobre
as mentiras da tv
melhor abrir os olhos
mesmo se na luz arder



Pedro Ormuz

#4 04/12

Muitas métricas
não me medem
nem se sujeitam
a me sujeitar

não me sugerem
certas medidas
não predicalizam
meu substantivar

vivem
correm
atrás
de mim

se alcançarem
haverão de ultrapassar
(não me medem)



Pedro Ormuz

#3 04/12

Com quem quer que fosse
Com quem quer que desse
Com quem quer que possa
Com quem quer que queira

Com quem?

Cocaine



Pedro Ormuz

Larica

nada me enche o estômago
nada me enche a cabeça
nada me esvazia o saco
nada satisfaz meu coração



Pedro Ormuz

#1 04/12

tudo cabe
quando secreto
quase exalado
volta incerto

"não aceito
me dizer
que não sei
de mim"

mas eu sei
por que doeu
mas é só
problema meu



Pedro Ormuz

28 de mar. de 2012

Amorzão, fáiço não
vem cá, larguidi mão do não

pra ir aí, pego dois busão
fámal não

vo filiz



Pedro Ormuz

22 de mar. de 2012

Cupido

Há de mirar em mim
tal flecha envenenada
admirar minha morte



Pedro Ormuz

15 de mar. de 2012

tonto canto

eu cantando tonto
sou estonteante
improviso num tom
modulo adiante

subo as terças
divirto nas sextas
compassos compostos
de vidas às meias



Pedro Ormuz

4 de mar. de 2012

Tô por aí

Se te falarem, amor,
que eu tô no paraíso.
Você me conhece, safada,
eu to no lixo.

Eu caí nessa vida,
que nem é tão bandida
nem falida e down.
Eu tô arrasando total

Você me viu na avenida?
Passei desfilando
sorrindo e sem camisa

Viu que nem tem desespero?
Puro rock
minha batucada de terreiro.



Pedro Ormuz

26 de fev. de 2012

Fa-tal

atraí-mo-nos
transa-mo-nos
e atrasa-mo-nos
nos-so compromisso



Pedro Ormuz

3 de jan. de 2012

Avanço e Modernidade

Amigos é o que queremos
Contatos é a realidade



Pedro Ormuz

2 de jan. de 2012

Entre cada passo

entre cada passo
uma medida
uma menção
uma unidade universal
uma escolha social

a liberação
o aprendizado
o apreendimento
o aprisionamento
a apreensão

entre cada passo
o primitivo
o estado do ser
o a priori e o pós
o erro do cálculo
o sabor da decepção

entre cada passo
um instante
a história dum homem
a dor de sentir
ser mutação