29 de dez. de 2010

Isn't It Quiet And Cold

E segue reto minha caminhada
nada no chão
nada nada na estrada

nenhum passo a frente quinze olhadas pra trás

lá eu vou, sem rumo
quando aqui fico, sem nexo

nada nada me tira de lá
não adianta insistir
nem tente me chamar

é na minha que fico
e de calado o bico
olhei demais pra trás , olhei
olhei até cansar

mas vou caminhar
eu você mais um
na micareta do teatro
da música de estar







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Agradeço todos que participaram lendo o que escrevi nessas notas durante esse ano, e pelas visitas na gaveta do passado. Uma música me segue desde que escrevi esse poema sobre ir a pé ... e deixarei como trilha sonora para o que acabo de postar, - que também batizei com o nome da música, que eu gosto muito. Obrigado!



Amor Fati

26 de nov. de 2010

Chá das treze

lá fora o sol raxa, aqui também tem brasa
no ar condicionado, a fumaça deixa tudo abafado
e nada foge do quarto, e nada escapa
não sou vegetal, e também não busco luz

o chá tá quente, a água chegou a secar na panela
culpa de um solo, a tea for two
clarísssimo, num trumpet, num quarto escuro
enquanto o sol pia, lá fora, onde também é escuro

14 de nov. de 2010

o que tem demais (amor platônico)

o que ela tem de mais, não vai além de eu imaginando que poderia contar pra ela amanhã o que fiz ontem.
que ela tem de mais: Eu.

nada mais
nada dela

12 de nov. de 2010

Doce e Amarga

Eu conheço sua doçura
em qualquer frase amarga
Eu entendo seu atraso
mesmo quando não vem

Por te conhecer,
pra tentar entender:
me coloco de lado.

E vou viver
enquanto te verei, doce e amarga,
passar

10 de nov. de 2010

Forró de três

No forró de três
um dança sozinho

Mas sozinho,
gira mais bonito.
E olha melhor pros lados.

31 de out. de 2010

Trago

eu trago lentamente
e quando trago vou

vou mais rápido que trago
e quando volto
trago o que eu havia levado

30 de out. de 2010

(...)

a virtude exata da sinceridade acontece quando a boca se cala
quando todo sopra chega ao ouvido


quanto mais te ouço
mais me escuto



29 de out. de 2010

Minha estrada

I


Onde eu estava com a cabeça quando te falei que ia chegar atrasado?
Onde estava com a cabeça quando falei que seria melhor deixar pra amanhã?

Onde eu fui quando não fui aí, e onde dormi quando você não dormiu aqui?
Onde eu fui quando você foi sozinha pro outro lado e eu fiquei olhando pra trás e não vi minha estrada?

Que estrada é essa que me encantou quando virei o pescoço?

- Que pescoço é esse que habituou olhar pra trás?


II


Meu carro avançou,
Olhei no retrovisor
continuei olhando.

Meu carro parou.
é mais seguro
olhar pra trás parado.


III


Só seguirei olhando pra frente
.não tiro olho do retrovisor

acelero, não olho pra frente
acelero, não olho pros lados

vozes atropeladas, acelero
gargantas cortadas, acelero

não tiro o olho do retrovisor
um muro, choque


IV


não morro, mas me mato
não morro, mas ressurjo

olho adiante, outro muro
atrás, meu carro quebrado

caminho adiante,
vou pro rumo do muro


V


escalo, pulo
ultrapasso o muro

e vejo que além do muro
Minha Estrada

28 de out. de 2010

diáfana, Diaba

fome
te amo
me chupa
se foda
me fode
qual é
qual foi
paga cocota
e vai tomar no cu



é GOL

25 de out. de 2010

As medidas

As medidas me contraríam
desmentem meu olhar

me enganam quando olho um espaço grande
que só é preenchido por uma pessoa pequena.

E sinto pena do espaço que vi
E sinto dó da rolha que não tampa

23 de out. de 2010

lounge, lá de longe

queria mesmo mudar pra longe.
quem está perto aqui, tá longe.
talvez longe daqui, até eu fique perto de mim.

fumando de novo, outra bituca

fumando, fiz lixo da bituca no chão e a amei.

fumando, fiz lixo do meu chão e o retirei.

amando, me fudi inteiro e fumei.

Fumando, fiz lixo da bituca no chão e a amei.

Jogar lixo no chão é feio
o amor é lindo
o cigarro mata;

em outra curva:

Jogar lixo no chão é lindo
o cigarro é feio
o amor mata

, mas pode variar outras vezes ainda.
e precisar de mais cigarros.

21 de out. de 2010

O Próprio amor-prÓpio

Estava tão só que resolveu fugir de si.

Escreveu uma carta pra si, mandou pra casa,
terminou tudo consigo mesmo.

Não abriu quando recebeu.

Ignorar, estava na moda.
Ter razão, não.

Te vi, ri

A beleza esteve sempre aqui
Os olhos estavam acolá

Sempre que passei te vi sorrir
Você sorrindo não me viu passar

18 de out. de 2010

see around

do belo e do limpo
virei carisma e expansão

"mas compreendi que além de dois
existem mais"

a foto

a foto marca, enlaça
come, fere e não apaga.
quando a memória se apaga
a foto enlaçada traz a marca

fere se tudo ainda é ferida
acalma se tudo foi aconchego
dá nas trevas luz do novo
com coragem antigo desejo

a foto embaça com lágrima
se corta toda com a tesoura
mas a memória foto se alastra

não se apaga se rasga,
não esquece memória falha,
matéria prima do vulcão é lava.

12 de out. de 2010

Caminho de Ida

Pequeno perante o mundo
Pequeno perante meu pai

Nada fiz
Nada trouxe
Nada tenho

Tudo me resta

9 de out. de 2010

Abraço em flores

Um homem não é capaz de abraçar uma flor
Uma flor só pode crescer na terra e no sol.
Homens gostam de perder seu chão e viver na sombra.

7 de out. de 2010

folha em branco

branca, areia branca
ternura e seda, branca
mar azul que leva
esconde e molha, azul

céu azul e areia, branca
saudade,
um arco-íris de saudade
dores brancas


17 de set. de 2010

cara ralada

na hora de buscar marmita
vi uma velhinha cair

quando voltei nem velhinha vi
pingos de sangue no chão

15 de set. de 2010

shine NO, estrela diamante

Estrela sem brilho, que vive no céu
qual foi a noite em que te vi
e porque, maldita sem brilho,
brilhaste e dançaste pra mim?

Mil telescópios pra ver-te de perto
nesses anos-luz entre nós, desertos.
Sem brilho, se brilhaste um dia,
não teme cair, cadente não seria.

Em que plano me leva ao delírio?
E o que planeja, sem brilho,
quando não me entregar ao destino?



6 de set. de 2010

O muro

Um muro te protege de mim
Te priva do meu cotidiano labuta
Um muro que você chama de sorte
Uma prisão que eu nunca nomeei

Um muro de conforto, um agasalho.
Hoje, da noite, dividimos o frio
Você com leite quente, eu fome
Pele trincada, sem dividir cobertores

Da minha inocência surge teu descaso
da tua sorte a minha cesta de caridade
O meu sonho de pagar conta e estudar

Da sua inocência surge minha rebeldia
da minha sorte o teu relógio que roubei.
O seu sonho de aumentar o tamanho do muro



17 de ago. de 2010

poemas pequenos

poemas pequenos são como beliscar os braços de uma moça
o sorriso vem, não os beijos


mas fica a graça

17 de jul. de 2010

2052

e no fim de nossas vidas nos sentaremos em paz
comendo, olhando em torno, nos admirando
admirados com a inutilidade de termos nos odiado

com respeito a desculpa nos virá no olhar
e ansiaremos um novo encontro, um hino
um rumo, um canto e uma prece

nossa amizade que deslizou à velhice
nossa ignorância que virou virtude
inimizade que nos construi
inimizade que nos motivou

16 de jun. de 2010

O Afeto e o Personagem

Aconteceu a mudança na minha vida, quando eu resolvi ser o personagem principal dela. E eis que, eu que sempre idolatrei alguém, não fui tão alvo assim de algum afeto - digno, pelas coisas dignas de afeto, como minha grande forma de amar. Mas me olham voltados para outros dons. Menos naturais e mais humanos. Que desprezo eu aprendi ter ao afeto. Que pecados cometi por isso. Aconteceu a mudança na minha vida, quando eu resolvi ser o personagem principal dela.


Pedro Ormuz

15 de jun. de 2010

Pra depois do frio

É muito fácil se entregar
eu prefiro lutar mais forte
Vou correr adiante, e me dirá
Sr. Tempo, professor hábil e supremo

O caminho da resposta é olhar pra dentro
E o ponto de partida é erguer a cabeça

Não dá tempo para os goles
Quando se tem pressa e fome
E se neles alguém afirma
é mais por fracasso que conforto

Há uma ponte e nela você caminha
Ao mesmo tempo que se é o chão que pisa

O caminho da resposta
é olhar pra dentro
E o ponto de partida
é levantar a cabeça


Pedro Ormuz

9 de jun. de 2010

Verniz

hoje eu parei de ler nietzsche
hoje eu comecei a tomar paracetamol
me deitei mais Cedo
caguei mais cedo, limpei o cU mais cedo

perdi meu rumo, virei religoso
falei mal de drogas e cannabis
Hoje eu chutei um mendigo
Hoje eu sozinho xinguei senhoras

Eu virei especialista em roubar cego
E em não dar ouvidos a nada
hoje EU vivi de verdade

hojE eu ressUcitei meu pai
me castrei e virei nobre
eu to estragado e to bem


"e cu se escreve é sem acento, mas você pode acentuar o cu se preferir assim"

Pedro Ormuz

6 de jun. de 2010

Alguns se Enganam





a morte não é pra qualquer um
não é feita para os tolos
nunca será contemplada pelos comodistas

a morte é pra quem viveu
é pra quem se aventurou na vida
é pra quem cheirou
e é também pra quem fedeu

É só pra quem teve orgasmos
A morte não é pra quem só gemeu
A morte não é buraco na estrada
E é muito mais que estrada no buraco

Não foi feita para os que passam
É privilégio dos que observam,
quando param


A morte não ainda te escolheu
A morte é mais que a sorte,
de quem só acha que morreu



poema feito para a mostra fotográfica "O fim pelo começo:
Um ensaio sobre o cemitério São Pedro" de Douglas Soares
e Vinícios Carvalho - Uberlândia no Bar Goma Cultura em Movimento

26 de abr. de 2010

Um intruso pela manhã



Levantou com uma sensação diferente, Fabrício, naquela terça-feira. Os dois cigarros deixados na mesinha, um para o café e o outro pra antes do banho, não estavam lá como deveriam. E para um susto geral do homem de barba intelectual, os cigarros estavam já fumados e jogados num cinzeiro que sua mãe havia trago de Portugal.
Tudo estava confuso, fazia tempo que Fabrício não bebia e nunca havia usado drogas, então veio-lhe ao pensamento que alguém poderia ter sondado sua casa enquanto ele dormia, atirado no sofá e com a tv ligada.
Passado um pouco do susto, ele resolveu tomar seu banho, deixando o café para tomar na padaria, quando compraria mais um maço daquele cigarro mentolado escroto.
Mas ao entrar no banheiro, outro susto! O papel higiênico havia acabado, o creme dental estava aberto e o chão molhado. Era então, confirmada a suspeita, alguém havia entrado ali e de alguma forma deixado a cabeça de Fabrício muito confusa.
Olhou no quarto, sim, alguém dormiu lá, comeu um pedaço do queijo na geladeira e saiu antes do dia raiar.
O cheiro de coisa estranha pairava pelo ar, resolveu, pois nada havia sumido, não chamar a polícia. Enquanto conferia na agenda o telefone de algum amigo para relatar os acontecimentos.
Quando ia descer para o trabalho, resolveu chamar os políciais, e então iria esperá-los na portaria do prédio, pois, subitamente, o medo começou a tomar conta do apartamento.
Na descida estranhou o sorriso do porteiro, pensou: “Será que esse homem sabe de alguma coisa, entrou na minha casa e descobriu tudo?”, — mas o porteiro já veio logo o cumprimentando e elogiando a beleza que Fábia era dona.
Fabrício tomou o celular em um instante e ligou para a irmã, Fábia, que noticiou que havia chegado bem cedo e feito o que devia, sem barulho; que saiu cedo, às 6:30, para pegar a fila de um órgão público, afim de tirar a segunda via de sua carteira de identidade.

A change of Seasons



Após tanto tempo sem internet coloco uma nova fase de escrita. O que era ruim conseguiu ficar pior. E é assim de agora pra frente. Poucos, raros e nenhum leitor talvez. Mas toma aí. Obrigado, hein!